Mariposa - MÁRCIO CASTILHO

31 de janeiro de 2022


 

MARIPOSA

 

De loucura, fiz-me,

Estático e em êxtase;

Tornei-me branco,

Vigiando a tua anatomia;

Tornei-me branco,

Vendo-te, lagarta, nua e fria.

 

Que magia usaste?

Que incenso espalhaste?

Roubei-te a pedra preciosa,

O talismã da garganta,

Nacarado, cor de rosa,

Minha doce lagarta.

 

Teu jeito vegetariano

Mordeu a minha carne.

Assustei-me,

Estático, inerme, embasbacado.

Circulei contigo na luz,

Virei a casa de cabeça para baixo,

Bailei contigo na luz.

 

Despiste a tua seda

Translúcida, tênue;

Perplexo, vi-te, mariposa,

Da tua feiura se despojando;

Asas cor de rosa rodopiando.

 

Tornei-me branco,

Estátua estática

Inerte no teu quarto branco,

Mariposa mágica.

 

Márcio Castilho

marciocastilho74@outlook.com

 


 


Poema - MARCELO BRANDÃO

27 de janeiro de 2022



A poesia,
existe
porque
resiste!

Enquanto
tecnologias
são criadas
para vir a
nos ajudar.
Enquanto
descobertas
científicas
são feitas.
Enquanto
a gente
se julga ou
se aceita.
A poesia
se tece e
acontece.
Enquanto
as guerras
expressam
o ápice da
estupidez
humana.
Enquanto
alguém nasce.
E enquanto
alguém morre.
Ela sempre
tem o que falar!
A poesia
acontecerá
até mesmo
enquanto
a ignorarem!
A poesia
acontecerá
enquanto
este tanto
este pranto
e este ato
não forem
nem pouco,
nem quase.
A poesia
é atrevida,
tem voz,
tem vontade,
tem coragem!
A poesia
existe
para
resistir!

Marcelo Brandão

Infinitudes Mulherísticas - RAQUEL LEAL

26 de janeiro de 2022


 

Infinitudes mulherísticas

 

Uma mulher tece o dia
Como trança os fios de cabelo
Se renda a barra do vestido
Se cose o corte de tecido

Uma mulher tece a vida
Se cuida do inocente
Rega a pequena semente
Tece na hora que cozinha

Uma mulher tece o eu
Quando aceita a imperfeição
Sabendo a educação do não
Valsando com o que pode ser

Uma mulher tece
Sem cansar as mãos
Infinitas razões
Desde que nasceu


Raquel Leal


O Escolhido- JULIO CESAR MAURO

25 de janeiro de 2022


 
“O ESCOLHIDO”

“Me aceite
Assim como eu sou
Igual a uma nota de duzentos
Que o meu bolso, ainda não guardou…

Me aceite às segundas
Às terças-feiras e quiçá aos domingos
Logo eu, que levo uma vida sem eira e nem beira

Vagabunda até
Cheia de silogismos, Príamos e vaga-lumes
Onde na luminescência da noite
Escolheu a escola da vida

Me aceite cheio de amores
Pleno de erros, mas isento de dores

Me aceite no teu serão
Me aceite apenas com um senão
Serei seu por hoje e até o fim do verão.”

*O escolhido*
By Julio Cesar Mauro
18/01/2021

Azaleia - MARCIO CASTILHO

24 de janeiro de 2022


 


AZALEIA

 

Preciso agir com sutileza,

Agir assim como quem cuida de uma criança indefesa;

Mudar assim; fazer do gris do amor,

Lilases, cobaltos, magentas, gelos;

Cuidar de ti, de mim, do que ficou;

Ficar atento aos teus desejos,

Teus medos, teus gestos.

 

Preciso ser forte,

Agir antes da morte

Com a rapidez de um antílope;

Matar o veneno das horas,

Encontrar um antídoto;

Num único tempo, juntar nossos beijos,

Nosso pulsar, nossas veias,

E esperar primaveras

Para roubar-te como flor de azaleia.

 

Preciso agir com sutileza,

Preciso ser forte;

Preciso, eu mesmo,

Resgatar, com urgência,

O teu amor antes da morte.

 

Márcio Castilho in De Todos Os Tempos (2019)

Marciocastilho74@outlook.com

 

 

 

 

 

L

HABEAS CORPUS - ELYANE LACERDDA

21 de janeiro de 2022


 

HABEAS CORPUS (poema retirado do livro Habeas Corpus-2015-Elyane Lacerdda)

 

 

Habeas Corpus para as emoções

Os desesperos contidos

As aflições no peito

A solidão contínua.

 

Habeas Corpus para o amanhã

Mais solidário

Mais inteiro em si

 

Habeas Corpus

Para os beijos

Que ainda não foram trocados

Para os abraços

As paixões vibrantes

Que nos alimentam o desejo

De ser feliz

 

Habeas Corpus

Para os sonhos

E que eles sempre existam...

 

Habeas Corpus

Para amar.

 

 

 

Poema- MARCELO BRANDÃO

20 de janeiro de 2022


 O amor é rindo,

podes crer?!
Ele é assim!
Preste atenção,
em como a gente sorri,
involuntariamente
até na hora de o falar!
O amor chora de rir,
o amor ri de chorar.
O amor é simples
serve tanto para
quem não sabe ler
como para quem
"não sabe falar".
O amor funciona
como luz, como guia.
O amor é bóia,
o amor é um colete
a prova de balas.
O amor é a maior lição
e o maior professor
que a gente terá!
O amor é essa coisa
que faz o surdo ouvir
e faz o cego ver.
O amor que nunca
é demais ou exagerado.
O amor às vezes
me deixa constrangido.
A falta de amor,
me deixa sempre!
Amor é coisa que
é melhor sobrar
do que faltar!
O amor é crença
posta em prática.
É prática que
crença nenhuma
ousa refutar...
Funciona muito mais
como um verbo,
do que como substantivo.
A melhor parte do amor
é que ele dá à nós,
a capacidade de amar...
Por isso, vou seguindo.
Afinal, como se diz
é para frente
que se ama!

Marcelo Brandão

Guarda- chuvas - RAQUEL LEAL

19 de janeiro de 2022


 

Guarda - chuvas


O guarda das chuvas descansa
Nos dias de sol
Nem balança guardado no canto
Por falta de vento

Pontiagudas lanças protegem
Todos os movimentos
Daquele que se lança
Contra o mal tempo

Mas o tempo é sempre bom

Ruins são os cuidados com a terra

Por isso desabam torrões
Por isso se abrem crateras

Por isso o céu chora copiosamente

E o guarda-chuvas se resguarda
Atrás da porta

Rezando para não precisar sair do seu posto.


Raquel Leal

Ilustração de Soledade Echaniz, artista argentina


Amores de Além Mar - JULIO CESAR MURO

18 de janeiro de 2022


 

“AMORES DE ALÉM MAR”

“Solar do barão
Prestando atenção, olhando pro alto
Dá para ouvir o canto dos escravos ecoando nos coqueirais

Solar de verão
É final de estação
E o outono que chega é como uma reza
Repetida à exaustão no meio dos mangues e canaviais pelos descendentes de antigos deuses orixás

Amores de além mar
Onde duas coroas europeias aqui vieram se bicar...

Solar das paixões
Aqui tudo é possível
O canto e a poesia e todas as formas de amar

Reunidas nessa praia, onde os coqueiros
Os viajantes vão saudar.”

*Amores de além mar*
By Julio Cesar Mauro
03/03/2020


De Lá Para Cá - MÁRCIO CASTILHO

17 de janeiro de 2022


 

DE LÁ PARA CÁ

 

Do lado de cá

Ouço o marulho das ondas.

Das ondas que vem,

Das ondas que vão,

Das ondas que explodem

Na rebentação.

 

Do lado de cá

Todos os dias o sol se espraia

Sobre a restinga que n'areia avança,

sobre os manguezais, sobre a lama,

Sobre o bronze que tinge a pele,

Sobre o marfim das dunas

Que ao léu se lançam.

 

Do lado de cá

Tem o vento e a vida que voa,

Tem a ilha e tem a lagoa,

E os tons tantos deste mundo,

Milhares de tintas que por um segundo

Tornam-se terra, mar e canoa.

 

Do lado de cá

Lá vou eu a registrar

As ilhotas de Urussuquara,

A orla da praia do Riacho Doce,

O chão batido de Meleiras,

Os guriris por todos os lados

E os cactos no chão incrustrados.

 

Ah, do lado de cá

Só falta alguém para amar,

Mas lá vou eu a viajar,

Indo para todo o lugar,

A percorrer com minha lente

A cultura dessa gente

Que antes vivia somente

Do lado de lá.

 

Ah, do lado de cá ....

 

Márcio Castilho

23-07-21 , Ilha de Guriri, Espírito Santo.

Marciocastilho74@outlook.com

Trovões- JULIO CESAR MAURO

15 de janeiro de 2022




 TROVÕES”


Trovejam os trovões
De norte e ao sul dos sertões
Trovejam com voz forte

Eu adoro andar na chuva
Porque não pego gripe ou resfriado
E acho mesmo que sou um sujeito de sorte

Trovões, raios e relâmpagos
Quando eu era menino
Tinha tanto medo que me escondia debaixo da cama
Com muitos temores, eu dizia, eu me rendo…

Trate-me como criança
Trate-me como adulto
Pois estarei te esperando, com chuva ou sem chuva
Para uma nova dança!”

*Trovões*
By Julio Cesar Mauro

 
Área de anexos

Poema- MARCELO BRANDÃO

13 de janeiro de 2022


 Eu nasci!

Sou fruta
que pariu
há trinta e sete
anos atrás,
que aliás,
se completam
exatamente
hoje!

Nasci, num pomar,
entre folhas e talos.
Que são daqueles
saborosos e comestíveis.
Algumas palavras doces
e alguns verbos ácidos...
quase aquele venenoso.

E eu nasci num mundo
onde desde a semente,
nós sobrevivemos
ao quê o homem
determina ser o eterno.
Eu sou a gozação,
oriunda de um gozo!,
Eu nasci ao meio dia,
com o sol na lomba,
com pouca água
e muita sede de ser!
Eu nasci com
muita energia,
minhas folhas,
flores e palavras.
O meu nascer,
me lê, me relê
e ainda me traduz.

Estou sempre em busca
de vento e luz...
E a poesia que
se escreve por mim,
está para além
daquilo que eu supus.

Eu nasço, se plantado
em mentes, corações,
em qualquer canto
ou qualquer cantar.
Eu nasço memória
que um dia haverão
de se lembrar...
Eu nasço naquilo
que se pode explicar
e no que não se traduz.

E eu sempre soube
aquilo que queria.
Há trinta e sete anos,
nasci nasci poema,
nasci poeta,
nasci poesia!

02/01/2022

Marcelo Brandão