O SONO HERMAFRODITA - Marina Alexiou

29 de outubro de 2021


 Marina Alexiou e seus textos lindos!






O sono hermafrodita

 

O que se segue é indefinido pelas ondas

num sono profundo do ser que se sonha,

no giro do caleidoscópio que é o seu coração.

Quem poderá pressentir os habitantes

dessa dupla dimensão imersa em seu íntimo?

O sorriso em seus lábios juvenis é indício

de uma experiência de entregas e dúvidas

inúmeras vezes revivida,

Enquanto seus olhos

miram esse horizonte encoberto e sem sol.

É terno esse ser viajante do não-ser.

Sua silhueta é breve,

como breves são os momentos de vigília.

Qual um Narciso, dorme

mirando o fundo do lago de sua essência primaveril.

E logo alcançará o outono das folhas do prazer

que caem copiosamente,

através das lágrimas do seu despertar.


SEM MÁSCARAS - Raquel Leal

27 de outubro de 2021

 


 

Sem máscaras

Ahhh ... se eu pudesse tocar
O seu sorriso indecifrado

Leria em cada dente
Todos os gostos
Da tua história

Depois refaria
Na memória
Cada sabor
Contado

Saberia de quantas essências
É construído o seu legado
E sobre o que tua boca diz
Enquanto está calado

Não ceifaria nenhuma dor
Mas da tua boca beberia
Cada cor que molha
Sem palavra alguma
Tua frase mais bela

Raquel Leal


SACERDOTISA LUNAR - Marina Alexiou

22 de outubro de 2021

              

                       Gustave Moreau


Sacerdotisa Lunar

 

Ela aponta para nossos anelos na imensa tela

Colorida pelas tintas da eternidade

Profundamente azuis...

Iluminadas por um fogo terrenal que arde a seus pés,

As cinzas são resgatadas por aqueles que descansam em seus braços.

E, portanto, recebem o olhar atento em deleites

Formadores de uma realidade magicamente encantada...

Aos que atendem ao seu chamado,

A rosa da vida é desfolhada lentamente,

Em pétalas que farão parte do bordado

Das vestes celestiais desse vasto ser

Personificado em infinitas imagens oníricas.

Perturbadoras. Purificadoras.

O caminho de ascensão aos segredos

Dessa dimensão a qual ela preside

Passará pelo poder desse semblante,

Cego aos arrependimentos e surdo para os lamentos...

Inexprimível rosto este, de cândido brilho e de expressão sonhadora

Em seu duplo aspecto de inconsciência lunar.

Que ouve em silêncio o mover dos deuses nos céus

E distribui refúgios em seu palácio resplandecente de ilusões.

Sobrevoando entre suspiros e anseios

Daqueles que tornam-se seus convidados,

Reparte, entre eles, as dádivas...

 

 

 

 

 

 

POEMA- RAQUEL LEAL

20 de outubro de 2021


 

 

Coluna: Meu quarto na quarta

 

Raquel Leal é atuante no meio poético desde 2012, embora escreva desde sempre, participou de vários saraus, entre eles o Solidões Coletivas, saraus no Grêmio Barramanse de Letras, saraus organizados pelo Circunlókios em Cafés voltaredondenses, também participa de eventos culturais promovidos pela sociedade civil e pública. É membro fundadora da Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil, e integrante da comissão organizadora do evento acadêmico Letra por Letra realizado para alunos e professores do curso de Letras, no Polo Cederj em Piraí. Finalista do Prêmio Olho Vivo de melhor poeta em 2019, e novamente em 2020. A arte à interessa em todas as suas formas de expressão, e a poesia à liberta. Professora de Língua Portuguesa e Literaturas é formada pela UFF, com cursos de extensão em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pelo IFRJ, Literatura Musical pela UFRRJ, entre outros.  Conselheira de Cultura na Cadeira de Literatura da cidade de Volta Redonda, tem por amor a arte e a sensibilidade de criar.


POEMA

O tempo é sabão molhado


Houve um tempo em que eu estava apaixonada
E minha luz brilhava entre toda a escuridão

Mas meu navio chegou, levando-me do vão
Que faziam suas mãos

Houve um tempo de lutas inglórias, lágrimas e medo
Havia dor e escorria solidão
Mas nada me roubava os pensamentos destinados a ti

Essas eram as horas em que eu novamente brilhava

Há de volta o meu tempo de estar outra vez apaixonada
E para ti vão minhas palavras escritas na pedra
Para que nenhum vento as transformem em nada
E o sal do mar não as desidratem e nem a solidão as ceguem

Até que um dia eu as encontre novamente e sorria, poesia

A ti sempre retorno, entregando meus interstícios.

Raquel Leal

Fotografia de Parati







TRILHAS - MARINA ALEXIOU

16 de outubro de 2021

JOAQUIN SOROLLA
 

Trilhas

A chuva escorre num cântico

Ondas batem placidamente em desenfreado comboio.

Enquanto pedras

Vão sendo limadas num turbilhão

E se transformam nas folhas que caem,

Amarelecidas pelos outonos.

Em alamedas entristecidas,

Para aqueles que nunca as saberão...

O vento na tempestade chama

A paisagem de intensas côres.

Surgirá numa primavera que espera

Pelo frescor nos pés,

A pisar o liso caminho desgastado em suas arestas

Dos tempos de ardor...

O coração adivinha que os tempos chegaram

Para as palavras,

Que se transformarão em preces

Em máxima quietude...

Ele aguarda, pois

Não há mais pressa em se adivinhar o futuro

Porque sabe que isso nunca existiu,

Para além dos devaneios comuns.

O perdão das estações se faz presente

E, assim, mescla a sua mensagem

Com os sonhos sonhados em vigília

Por longo tempo...

A trilha surge

Em meio a novos quadros, já nítidos.

E o viajante segue... uma vez mais,

Pela última vez.

Agora feliz...

O BAILE DE MÁSCARAS - ANGELO DE CASTRO

9 de outubro de 2021



O Escritor e poeta, Angelo Castro , conversando ontem comigo pelas redes sociais, fez algumas colocações bem pessoais a respeito da mensagem que foca dentro do "O Baile de Máscaras!"

-   Palavras do Autor : o Livro é composto de apenas um poema, com o enredo se desenrolando em versos, com o conteúdo voltado para um sonho, que o narrador tenta descrever...

- Retrata a visão de dois anjos, sendo um do "bem" e o outro do "mal", onde nossos desejos estão sempre mascarados e fantasiados.

- Trata-se de uma ficção, mais ou menos no estilo "Edgar Allan Poe." Mistérios, terror, indagações existenciais?

- O autor é amante da métrica visual, razão de usá-las em seus poemas!

- O Livro encontra-se em formato artesanal, pois ainda não foi editado !

Indico a todos os leitores , e sugiro que entrem em contato com o Autor pelas redes sociais.


 

NINFA -MARINA ALEXIOU

8 de outubro de 2021


 

Ninfa

 

A paisagem acidentada

Acompanhava a sua existência de frágeis nervuras de concha

A substituir o seu coração, que...

Emitindo o som das profundezas de um oceano,

Se fazia ouvir nas batidas de sua pulsação.

O movimento do fluxo do sangue em suas veias e o fluxo das suas memórias

Iam ao encontro do mar de habitantes da sua intimidade mais velada,

Corais de imagens incrustradas nas pedras da sua imaginação.

Recebendo o impacto tremendo das ondas do espanto

Criavam impressões de ricos contornos em desenhos,

A formar o mobiliário de uma nova morada

Para essa alma de inarráveis outras (moradas), ainda por surgir...

A topografia desse ser que mostra estreitos caminhos e saídas,

Banhados pela púrpura aurora

De inúmeras ilhas de Calíope, continua a esperar...

Pelo fim da imortalidade.

 

ARTISTA- ESCRITORA E POETISA, MARINA ALEXIOU

1 de outubro de 2021

 

Artista

 

Realidade oferecida a nós pelo olhar sutil e amoroso do artista.

A oferenda do seu mistério particular é eterna...

Aposentos antigos, vozes ancestrais, salões luxuosos, servidão...

Espelhos.

Estratégicos mensageiros de um futuro

Romanticamente sonhado, vislumbrado, ordinariamente inesperado.

Mas tão querido. Tão amado.

O artista é condescendente com o seu destino

Porque arrisca o salto para dentro desse registro

Que supera o vagar.

Onda dissonante daquilo que habita o seu exterior

Traz elementos e materiais que fixam perigosamente

Qual flecha de Odisseus,

A autoridade do (seu) Reino.