RELIQUARIUM - MARCIO CASTILHO

4 de julho de 2022


 

RELIQUARIUM

 

Peixe solitário,

Qual será teu itinerário?

 

Tu que ousas me ver

Submerso nas águas deste cenário,

Deves então antever

Que o lado de fora é ordinário.

 

Pois, ao fitares-me por entre escolhos,

Pressinto indagares a ti mesmo

Com as pálpebras ausentes nos olhos,

Se a felicidade aqui anda a esmo.

 

Tu, peixe celibatário,

Qual será teu itinerário?

 

Destarte, posso ao menos

Contemplar-te neste aquário,

Namastê, peixe pequeno,

Neste meu viver diário.

 

Tu, peixe solitário,

Qual será teu itinerário?

 

Tu que não te importas com fuso horário

Deixa teus beijos nas conchas como se fossem relicários,

Deixa cumprir o destino, endereça aos céus o necessário,

Deixa para viver n’água, pois tudo em terra é arbitrário.

 

Entre esses redutíveis cascalhos

Sê pequeno, namastê,

Pois ser poraquê para quê,

Neste pacífico mar imaginário?

 

Tão somente então persistem

O ser da terra e o ser do mar,

Pois o Deus que em mim existe

Saúda o Deus que em ti está -

E assim nossos mundos coexistem,

Eu daqui e tu de lá.

 

Márcio Castilho, De Todas As Tribos, 2021

e-mail: marciocastilho@outlook.com

 

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