RELIQUARIUM
Peixe solitário,
Qual será teu itinerário?
Tu que ousas me ver
Submerso nas águas deste cenário,
Deves então antever
Que o lado de fora é ordinário.
Pois, ao fitares-me por entre
escolhos,
Pressinto indagares a ti mesmo
Com as pálpebras ausentes nos
olhos,
Se a felicidade aqui anda a esmo.
Tu, peixe celibatário,
Qual será teu itinerário?
Destarte, posso ao menos
Contemplar-te neste aquário,
Namastê, peixe pequeno,
Neste meu viver diário.
Tu, peixe solitário,
Qual será teu itinerário?
Tu que não te importas com fuso
horário
Deixa teus beijos nas conchas
como se fossem relicários,
Deixa cumprir o destino, endereça
aos céus o necessário,
Deixa para viver n’água, pois
tudo em terra é arbitrário.
Entre esses redutíveis cascalhos
Sê pequeno, namastê,
Pois ser poraquê para quê,
Neste pacífico mar imaginário?
Tão somente então persistem
O ser da terra e o ser do mar,
Pois o Deus que em mim existe
Saúda o Deus que em ti está -
E assim nossos mundos coexistem,
Eu daqui e tu de lá.
Márcio Castilho, De Todas As
Tribos, 2021
e-mail:
marciocastilho@outlook.com
0 comentários:
Postar um comentário