Dessilente- RAQUEL LEAL

5 de janeiro de 2022



 

Dissilente

Era possível que ela tocasse aquelas mãos
Por puro espanto e prazer

Indo além

Era possível que as beijassem

Com toda a ternura existente em seus lábios doces,
quase melados de poesia

Havia porém entre seus lábios e as mãos
-As que devotava imensos sentimentos-

Uma boca

A grande boa do silêncio

Estrangeira, já não o temia
Beija agora, como beijaria e não beijara
Simplesmente pelo inverno

Sem luvas, aquelas mãos predestinadas
Voltariam a escrever

E ela, sem silêncio e sem infantaria
Beijará
Como bebe cada verso historicizado
A angústia de um talvez poema

Raquel Leal

Pintura de autor desconhecido, infelizmente

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