Elis
é uma intérprete genial, uma personalidade apaixonante e uma lição: quem ama o
que é, atrai amor. De todo lado.
Elis
Regina é um universo, como querem os astrônomos. Seria preciso um Carl Sagan
para escrever com precisão sobre estrela de tamanha grandeza.
Elis
Regina Carvalho Costa, a Elis Regina, passou como um furacão pela Música
Popular Brasileira entre a década de 1960 e o início da década de 1980, quando
morreu precocemente, aos 36 anos.
Vendeu
4 milhões de discos em 18 anos de carreira. Qualidade vocal, presença de palco
e personalidade colocaram Elis na história como uma das mais importantes
cantoras e intérpretes brasileiras.
Alguns
dizem que a data de fundação da MPB foi o início do mês de abril de 1965,
quando Arrastão venceu o 1º Festival Nacional da Musica Popular Brasileira da
extinta TV Excelsior. Arrastão era uma parceria de Edu Lobo e Vinícius de
Morais e realmente não tinha nenhuma feição “bossanovista”. Impossível cantá-la
com um banquinho e violão.
Elis
Regina detona na interpretação não apenas em termos de potência vocal como de
performance física. O coreógrafo Lennie Dale mandou que ela cortasse os cabelos
e agitasse os braços. E ensinou-lhe como fazer.
Abençoada
com uma linda voz grave e sensual, uma técnica perfeita e um sentido rítmico e
harmônico digno de um gigante do jazz, Elis era um músico completo que competia
não só com seus colegas, mas consigo mesma.
Elis
estudou piano brevemente durante a infância com uma professora particular. Após
concluir a fase inicial, a professora sugeriu a procura de um conservatório
que, por sua vez, exigia que o aluno tivesse o instrumento em casa. “Entre
comer e ter o piano, meus pais escolheram comer, o que a longo prazo eu achei
ótimo”, disse Elis em entrevista em 1972.
Elis
era espírita, estudiosa de Allan Kardec e chegou a psicografar cartas. Além de
fazer shows beneficentes para instituições sociais. Devido à sua afinidade com
a religião, foi convidada a participar de um especial em homenagem a Chico
Xavier, cantando a canção "No céu da vibração", de 1980.
Elis
foi reprovada por Tom Jobim, em 1964, durante as audições para o disco Pobre
Menina Rica, sob a alegação de que ela ainda era muito provinciana. Exatamente dez anos depois, gravaram juntos o
disco Elis & Tom, histórico registro da MPB. O disco foi o presente dado à
Elis pela gravadora ao completar dez anos de gravações na antiga Philips, atual
Universal.
Elis
impressionou o maestro inglês Peter Knight e sua orquestra ao gravarem juntos o
disco Elis in London, de 1969, ao vivo, sem repetir nenhuma das doze canções.
Foi aplaudida de pé pelos músicos ao final da gravação. O disco só seria
lançado no Brasil em 1982, após sua morte.
A
música "Atrás da porta", gravada por Elis em 1972, ainda não estava
finalizada e era apenas um rascunho quando foi ouvida por Roberto Menescal, seu
produtor à época. Elis gravou apenas a parte inicial da letra, fazendo
vocalizes durante o resto da canção. O registro foi enviado a Chico Buarque,
que a finalizou instantaneamente.
Elis
foi diretamente investigada pelo DOPS, órgão de repressão da ditadura militar,
e chegou a ser intimada para depor nesse departamento, devido a sua ligação
musical com o movimento negro norte-americano (evidenciada pela gravação da canção
"Black is beautiful", em 1971) e por interpretar compositores tidos
como subversivos. Um diplomata sueco chegou a ser detido durante uma
manifestação anti-ditadura por portar um LP de Elis.
Alguns
compositores ficavam receosos de gravar suas próprias canções após Elis as ter
interpretado, tão forte era a marca de seu registro. Gilberto Gil, após vê-la
cantando "Se eu quiser falar com Deus" em um show, se perguntou:
"Como é que eu vou cantar essa
música agora?".
Os
direitos trabalhistas dos músicos brasileiros eram preocupação permanente de
Elis Regina. Em 1978, criou a Associação de Músicos e Intérpretes (ASSIM), na
tentativa de reparar músicos do que considerava uma grande injustiça: ao gravar
discos, instrumentistas eram obrigados a abrir mão de seus direitos conexos.
Elis
não gostava de cantar sucessos antigos em seus shows, e a partir de 1978 deixou
de cantar "Romaria" particularmente após uma fã vir lhe pedir um
autógrafo, aos prantos, segurando uma imagem de Nossa Senhora, como se viesse
receber uma bênção.
Após
se apresentar no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, em 1979, Elis era
chamada pelo público e pela crítica europeia de "a nova Ella
Fitzgerald". Antes de se apresentar, Elis teve uma crise de choro ao se
lembrar que ela, filha de lavadeira, iria se apresentar no mesmo palco que os
grandes gênios da música mundial. Ao final de show, foi convidada a se
apresentar, sem ensaio, com Hermeto Paschoal, numa apresentação que até hoje é
considerada histórica. Por não ter aprovado seu desempenho no show, Elis não
autorizou o lançamento do álbum, que veio ao público apenas após sua morte, em
1982.
Elis
falava exatamente o que pensava, na hora em que pensava, na linguagem que a
conviesse. Há imagens de palavrões homéricos sendo ditos em rede nacional no
horário nobre. Elis ria alto, desajeitado, grande. Quase gritava. Fazia
escândalo, brigava mesmo.
No
início de 1982, pouco antes de sua morte, em 19 de janeiro, Elis começava a
preparar um novo disco. Anotações na agenda da cantora traziam lista do que
podia ser o repertório de seu novo trabalho, com músicas de Milton Nascimento
(Nos bailes da Vida; Tudo que você podia ser) e Tom Jobim (Falando de amor).
Henfil
escreveu a frase definitiva sobre sua morte física; os homens a matamos.
Matamos a maior cantora do Brasil com desprezo, críticas hidrófobas,
ressentimentos mesquinhos de incompetentes que serão tragados pelo tempo, ao
passo que esse mesmo tempo, que devora o coração dos invejosos, a rejuvenesce
cada vez mais. O crítico nojento que se exploda com a implacável permanência de
Elis, sua venda constante de discos, os textos que continuam gerando, a
homenagem de Maria Rita ao repertório dela.
Com
1,53m, Elis sempre quis ser a maior cantora do Brasil, uma preocupação que
Maria Bethânia, Gal Costa, Nana Caymmi, Marisa Monte ou Cássia Eller nunca
tiveram, mas para ela era uma questão de vida ou morte, que estressava sua vida
numa competição permanente.
“
Na montanha-russa de sua vida, Elis
também poderia ser de extrema doçura e solidariedade com os amigos e uma mãe
dedicada e amorosa que deu seu melhor aos filhos. Sem ser nenhum padrão de
beleza, era uma sedutora irresistível e teve os homens que quis, na hora que
quis. ” (Nelson Motta)
VÍDEOS:
·
Última
entrevista de Elis, pelo programa Jogo da Verdade (TV Cultura): https://www.youtube.com/watch?v=ax-p-Zr8cyg
·
Vou
Deitar e Rolar (Baden Powell - Paulo César Pinheiro): https://www.youtube.com/watch?v=qErCYYU6bGE
·
Elis
Regina entrevistada por Nelson Motta - (Montreux): https://www.youtube.com/watch?v=zhBKXqlJLRM
DISCOGRAFIA:
Estúdio
Ø
1961
- Viva a Brotolândia
Ø
1962
- Poema de Amor
Ø
1963
- Elis Regina
Ø
1963
- O Bem do Amor
Ø
1965
- Samba - Eu Canto Assim
Ø
1966
- Elis
Ø
1969
- Elis - Como e Porque
Ø
1970
- Em Pleno Verão
Ø
1971
- Ela
Ø
1972
- Elis
Ø
1973
- Elis
Ø
1974
- Elis & Tom (com Antônio Carlos Jobim)
Ø
1974
- Elis
Ø
1976
- Falso Brilhante
Ø
1977
- Elis
Ø
1979
- Essa Mulher
Ø
1980
- Saudade do Brasil
Ø
1980
– Elis
Ao
Vivo
Em
Vida
Ø
1965
- Dois na Bossa (com Jair Rodrigues)
Ø
1965
- O Fino do Fino (com Zimbo Trio)
Ø
1966
- Dois na Bossa nº 2 (com Jair Rodrigues)
Ø
1967
- Dois na Bossa nº 3 (com Jair Rodrigues)
Ø
1970
- Elis no Teatro da Praia
Ø
1978
- Transversal do Tempo
Póstumos
Ø
1982
- Montreux Jazz Festival
Ø
1982
- Trem Azul
Ø
1984
- Luz das Estrelas
Ø
1995
- Elis ao Vivo
Ø
1998
- Elis Vive
BIO
Thiago
Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site
Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do site Jornal Correio
Eletrônico. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram
entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com.
Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.
A vida nos ensina todos os dias...aprendemos sempre...
ResponderExcluirmas foi maravilhosa como intérprete!
Que voz e expressão corporal....mas quanta depressão!!!!
Bjos
É verdade Marcos, a obstinação pela perfeição pode nos tornar inimigos de nossa própria ambição, o que nos faz sofrer. Ganha o público e a música com a sua presença.
ResponderExcluirLinda cantora
ResponderExcluirEliane o nome da música é what make You beautifull one direction
Beijos
Marina,
Excluirobrigada!
bjos
Obrigada Marina. Bjs
ExcluirBom dia, Elyane!
ResponderExcluirNossa! Muito bom post!
Não sou de MPB, mas admiro a boa música e a linda interpretação, que é tão raro hoje em dia - a época que existia "músicos".
Sempre admirei a voz dela e o sorriso marcante.
Conheci muito agora, lendo esse post e não há como não dizer que ela, como tantos outros que passaram, fizeram história em seus campos de atuação. Não sei se sou eu, mas hoje em dia não vemos esse afinco, essa fé e essa vontade de superação por acreditar no que faz. Geralmente quando vemos isso é só visando a fama futura.
Parabéns pelo belo post que veio até com a discografia, adorei!!!
Abração esmagador e feliz dia.
Obrigada,querida!
ExcluirVolte sempre!
Obrigado pelo depoimento.
ExcluirBjs
Não importa se alguém deixou esse mundo, quando uma partícula dela ainda vive, como a sua voz, que depois de anos continua viva no MPB e jamais morrerá!
ResponderExcluirForte abraço!
Identidade Aleatória
O Identidade Aleatória está no facebook!
Com certeza, fica a lembrança, a cultura e o legado rico.
ExcluirBjs