Cauby
Peixoto e um estilo de cantor que já não existe mais.
Nascido
em Niterói, a relação de Cauby com a música vinha de berço. Sua família,
altamente musical, incluía seu tio pianista Nonô (da turma de Noel Rosa), seu
primo sambista Ciro Monteiro e seus irmãos Moacyr, pianista, e Arakén,
trompetista. Ainda adolescente, cruzando a inspiração em ídolos como Orlando
Silva e Silvio Caldas com a influência jazz familiar, começou a cantar como
crooner na noite paulistana, ao lado do irmão Moacyr, época em que se escondia
atrás de pilastras ou cortinas para se apresentar sem ser visto pelo juizado de
menores.
O
maior cantor brasileiro de todos os tempos acaba de nos deixar. A emoção da
perda de um artista único, como jamais iremos conhecer igual, soma-se oi
indescritível prazer de ter trabalhado com ele durante três anos no filme sobre
sua obra.
Quando
Cauby Peixoto surgiu na música brasileira, seis décadas atrás, era fácil
identificar um bom cantor: vozeirão daqueles de chegar na última fileira da
plateia sem microfone, interpretação intensa, repertório altamente variado. Com
seu timbre de barítono, gosto pelo derramado e a sensibilidade jazzística
herdada de sua família musical, de saída Cauby era o pacote completo, mas ainda
tinha mais.
Ficamos
todos mais pobres sem Cauby. Podemos esperar cem anos, mil anos, mas não voltaremos
a ver um interprete brasileiro como ele. Que lá de cima Cauby cuide de nossa
orfandade.
Cauby
Peixoto foi o último dos moicanos. Com a sua morte, vai junto um estilo de
cantor que já não existe mais, aquele de vozeirão aveludado, romântico incurável,
ideal para se ouvir dançando num daqueles bailes "mela-cueca" dos
anos dourados.
Foi
o mais longevo de todos os nossos cantores desse naipe, com 65 anos de carreira
ininterruptos, sem que o metal da voz jamais lhe faltasse, sempre gravando e
fazendo grandes shows. Até o fim.
Influenciado
pelos seresteiros Orlando Silva e Silvio Caldas, pelo balanço do primo Cyro
Monteiro e pela escola cool de Nat King Cole, ele tinha uma versatilidade
fabulosa, com direito a uma usina de glamour talhada em auditórios de rádios,
boates chiques (do tempo em que o Rio e São Paulo tinham uma vida noturna com
música ao vivo de alta qualidade), e pitadas hollywoodianas, já que viveu um
bom tempo dos anos 1950 na "América".
Nas
Rádios Nacional e Tupi, Cauby foi cantor-galã, tendo um séquito de fãs que o
rasgavam para levar um pedacinho de sua roupa, desmaiavam quando lhe viam,
enfim, eram aficionadas por ele. Acreditem, algumas até hoje estão solteiras
por sua causa. Era uma histeria tão grande que ele foi obrigado a morar num
hotel para ter um pouco de paz.
Nesse
tempo, encantou a todos com as românticas "Conceição", "Tarde
Fria", "Molambo", "Nono Mandamento" e "Prece de
Amor", a tarantela kitsch "Canção do Rouxinol" e grandes
versões, como "É Tão Sublime o Amor", "Daqui Para a
Eternidade" e a que o lançou ao sucesso, "Blue Gardenia", do
repertório de Nat King Cole --que ele teve a honra de conhecer pessoalmente.
Sua
temporada americana se deu entre 1955 e 1959, entre idas e vidas, capitaneada
por seu empresário, Di Veras, um marqueteiro de mão cheia.
Lá,
esteve ainda com Bing Crosby, cumprimentou Marylin Monroe e Jane Mansfield,
chorou ao ver um show de Lena Horne, ensinou Marlene Dietrich a cantar
"Luar do Sertão" e ainda ganhou música inédita de um Burt Bacharach
iniciante. Participou de um filme musical vestido de toureiro e mudou o nome
para Ron Coby e Coby Dijon, pois "Peixoto" era impronunciável para os
americanos, gravando rock-baladas à la Elvis Presley, seu contemporâneo.
Cauby
foi moldado pelo empresário Di Veras --um industrial metido a compositor que
vivia buscando um cantor para entoar suas melodias. Quando descobriu o
potencial do rapaz numa ida a São Paulo, onde era crooner da noite no conjunto
de seu irmão, o pianista Moacyr Peixoto, enlouqueceu.
Fez
misérias para transformá-lo no "maior cantor do Brasil". Deu-lhe um
banho de loja, mudou seus dentes, arranjou-lhe uma gravadora, e finalmente
armou todo tipo de publicidade em torno de sua figura, algo incomum no Brasil
da época. Em seis meses, em 1954, Cauby já estava estourado.
Ah,
Cauby era um sujeito delicado e não tinha namoradas? Não havia problema, Di
Veras as inventava. Por isso mesmo, foi um artista polêmico desde os primeiros
tempos.
Nos
Estados Unidos, Cauby deu asas mais à sua vida pessoal do que à carreira. Di
Veras acabou convencendo-o a voltar ao Brasil. Aqui então fez novos sucessos a
partir de 1960, como "Ninguém é de Ninguém" e "Ave Maria dos
Namorados".
Passou
a gravar também em outros idiomas por aqui e a arriscar outros gêneros mais
modernos, como sambalanço, bossa nova e canções da MPB da fase dos festivais.
Ainda fez um tour por Espanha e Portugal com grande sucesso em 1963, e na volta
abriu sua própria boate com os irmãos músicos, a Drink, no Leme.
Durante
a década de 1970, foi o rei da noite, cantou em pequenas boates pelo país e
estava um pouco apagado da mídia quando em 1980 o diretor da Som Livre, João
Araújo, decidiu dar um gás em sua carreira.
Nascia
o álbum "Cauby! Cauby!", em que deu uma geral no repertório, com
autores mais jovens ou sofisticados. A faixa-título era um autorretrato
deslumbrante do cantor pintado por Caetano Veloso. "Loucura", de
Joanna e Sarah Benchimol, estourou na novela "Baila Comigo" e
"Bastidores", de Chico Buarque, virou seu emblema pela vida afora:
"Cantei, cantei, nem sei como eu cantava assim..."
A
partir de então, a imprensa nunca mais se esqueceu do cantor. Seus discos e
shows eram sempre comentados.
Influenciado
pelo pianista americano Liberace, passou a ousar cada vez mais no figurino, com
ternos extravagantes, e vendo shows de Ney Matogrosso e Maria Bethânia, sentiu
que era preciso se renovar também no palco. O resultado foi avassalador.
Cauby
passou a gravar um repertório melhor e ser um showman de primeira categoria,
capaz de romper fronteiras entre o chamado brega e o chique.
Entre
tantas décadas, Cauby sobreviveu com sua arte através da força do personagem de
si mesmo. Ano após ano, nunca foi abandonado na história. Além de cantor
perfeito e do brilho próprio dos altamente carismáticos, exercia uma arte
esquecida: era um personagem. Com sua elegância extravagante e andrógina, seu
ar de dândi com peruca cacheada e figurino de cores, brilhos e paetê, Cauby
tornou-se um ícone –de uma época, de longevidade artística, de grande voz, de
glamour à moda antiga, de elegância, de auto-expressão.
Muitas
vezes lhe perguntaram, mas Cauby nunca se disse gay. Sempre contou histórias de
envolvimento com diversas mulheres, mas também chegou a dizer durante show em
uma boate gay: "somos uma gente muito especial". Sex symbol para
muitas mulheres, ícone para muitos gays, um deslumbre para muitos fashionistas.
Mais do que homem ou mulher, normativo ou simpatizante. Cauby sempre foi uma
estrela.
BIO
Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do site Jornal Correio Eletrônico. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.
Thiago Muniz tem 33 anos, colunista dos blogs "O Contemporâneo", do site Panorama Tricolor, do blog Eliane de Lacerda e do site Jornal Correio Eletrônico. Apaixonado por literatura e amante de Biografias. Caso queiram entrar em contato com ele, basta mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com. Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.
Trabalhou até agora e resolveu descansar...Grande talento e perda!
ResponderExcluirverdade,amiga!
Excluirbjos
Uma grande perda!
ExcluirBonita postagem homenagem a este cantor das multidões que fez de tudo para estar no auge e encantou por onde passou.Na casa de meus pais tinha ou ainda tem uma foto dele quando esteve me minha cidade em 1960, num pequeno campo de aviação(da empresa Vale do Rio Doce) de terra vermelha,onde na chegada teve sua camisa rasgada por uma fã. Foi um grande show dele na pequena cidade.
ResponderExcluirAcompanhei a carreira dele aos ouvidos dos meus irmãos seresteiros e o ouvia quase todos os dias nos anos 60 e 70.
Recentemente o vi num programa de televisão do Serginho juntamente com sua parceira maior. Já um Cauby de cadeiras e ora vacilante nas lembranças.
Fica a historia.
Valeu Eliane.
Bjs e boa semana amiga.
Obrigada,amigo querido!
ExcluirObrigado pelas palavras Toninho, grande abraço!
Excluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirobrigada,querido!
É verdade Marcos!
ResponderExcluirExcelente homenagem a Cauby Peixoto, que nos encantou, sempre com muita classe... Parabéns!
ResponderExcluirFeliz mês de junho, abraços carinhosos
Maria Teresa
obrigada,amiga!
Excluirvolte sempre!
Obrigado Maria Teresa !!!
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