Rogério
Skylab, nome artístico de Rogerio Tolomei Teixeira (Rio de Janeiro, 2 de
setembro de 1956), é um cantor, músico, compositor e poeta brasileiro, formado
em letras e filosofia pela UFRJ, não exercendo. O músico e poeta Rogério Skylab
é dono de um vasto repertório literário e filosófico, constituído em meio a um
ambiente nada inspirador. Rogério é casado com a fotógrafa Solange Venturi.
Quem
só conhece Rogério Skylab “por alto” não imagina o que há por trás de sua
excentricidade, humor negro e gosto pelotrash. Autor de clássicos do
underground como “Eu tô sempre dopado” e “Amo muito tudo isso?”, o músico,
poeta e agora apresentador do Canal Brasil (onde comanda o talk show “Matador
de passarinho”) é um leitor obsessivo e autodidata, dono de uma erudição rara
no universo da cultura pop brasileira.
Skylab
tem uma estética punk aliada a uma postura lírica, um dos alicerces do seu
trabalho.
Iniciou
sua carreira musical em 1991 e ganhou notoriedade nacional ao aparecer
repetidas vezes no programa de entrevistas de Jô Soares. Ele é ex-funcionário
do Banco do Brasil, onde trabalhou por 27 anos. Durante seus shows é comum uma
grande interação com a plateia, de modo a performizar e enfatizar as letras de
suas músicas.
Suas
letras tendem normalmente ao pessimismo e minimalismo. Apesar de ser
considerado como humor negro por terceiros, ele renega veementemente essa
característica e não considera sua obra ligada ao humor. Musicalmente se
assemelha a gêneros diversos como garage rock, seresta, bossa nova e punk rock
dos anos 1980.
Em
2012, tornou-se entrevistador do programa Matador de Passarinho, no Canal
Brasil.
Ele
já foi caçador de passarinhos, cantou sobre o desejo escuso de apagar uma
velhinha --daquelas que atravancam o caminho-- e já construiu uma versão
Frankenstein e cheia de podres da apresentadora Fátima Bernardes. Hoje, Rogerio
Tolomei Teixeira, o Rogério Skylab, quer apenas ser levado a sério.
O
carioca, famoso por suas entrevistas extravagantes no programa de Jô Soares,
atualmente divulga seu novo trabalho, "Melancolia e Carnaval",
segundo capítulo de uma trilogia carnavalesca. Um álbum independente --como
todos de sua carreira-- lançado em plena Copa do Mundo, cinco meses depois da
Quarta-feira de Cinzas.
Distante
da estética low-fi da série "Skylab", o novo trabalho se entrega à
canção brasileira, num resgate aos velhos sambas orquestrados da boemia
carioca. Um tipo de música que, segundo Rogério, se perdeu no curso da
história, entre os batuques e rodas da geração pós-Zeca Pagodinho.
"Eu
faço uma conexão entre o samba e a melancolia, que são coisas que se entrelaçam
na nossa cultura, com depressão absoluta e sofrimento. E, musicalmente, ele vai
muito na contramão do que se valoriza hoje aqui no Rio, do samba do bloco
Cacique de Ramos, que enfoca muito mais a percussão", diz Skylab, com
propriedade no território onde agora pisa.
Como
atestam faixas como "Tudo é Tão Deprê" e "Aqui Todo Mundo é
Preto", o universo poético do músico continua o mesmo. Mas as influências
musicais agora passeiam por Ataulfo Alves, Baden Powell e Jards Macalé, que
participa do álbum na faixa "Cogito", enquanto a Velha Guarda da
Mangueira brilha em "Vamos Esquecer" e o guitarrista Rômulo Fróes
toca em "Elegante, Decadente".
Nunca
os arranjos de Skylab surgiram tão sofisticados. Nada parecido com suas antigas
incursões punk-experimentais, que ganharam contornos cômicos nas entrevistas na
televisão. Uma inclinação da qual Skylab foge como o diabo da cruz. E o mesmo
vale para rótulos: escatológico ou terrorista poético, nem em sonho.
"Minha
imagem artística está muito ligada à minha participação no Jô. E ele sempre
leva as entrevistas para um tom de humor. Então, entendo que o público de um
modo geral, aquele que não conhece o meu trabalho, acaba comprando essa imagem
do humor, que eu sempre fui contra", afirma. "Mas não fico com raiva
dele, de forma nenhuma. Isso foi importantíssimo para divulgar meu
trabalho."
No
reduto da psicanálise, as letras explícitas de Skylab representariam uma
espécie de "ID" da música brasileira, a estrutura responsável pelos
instintos e impulsos mais urgentes. Niilista, ele faz rimas com assassinatos,
sexo e mutilações --a vida como um roteiro de filme trash. Mas, prestando
atenção em sua fala calma e reflexiva, é perceptível que sua figura está mais
para um "outsider", alguém que simplesmente está fora dos eixos
consensuais, com uma consciência exemplar.
"Fiz
questão de lançar meu disco e fazer shows durante a Copa. Sempre fui um pouco
crítico em relação a ela. E eu nem falo isso para reforçar o coro do 'não vai
ter Copa'. Tenho uma relação profunda com o futebol. Sou Fluminense doente, mas
minha bronca hoje não é com Felipão nem com os jogadores. É com parte da mídia,
vários jornalistas, que tentaram vender um peixe que a gente sabia que estava
estragado."
Para
o futuro, o ex-bancário planeja tocar e completar sua trilogia, com
"Desterro e Carnaval", previsto para sair em 2015. O próximo álbum
terá também participações especiais, ainda mantidas em segredo. "Tenho
ouvido muita música brasileira, Itamar Assumpção, Baden Powell, aquele disco
dos orixás ['Os Afro-sambas', de 1966]. Já tenho um novo repertório e estou
produzindo. Vou continuar divulgando o meu trabalho. Tenho mais de 15 discos, o
que é raro para alguém do underground, e não pretendo parar."
“Eu
dava pra Rogéria”, encerra o cantor, músico, escritor e entusiasta das
travestis Rogério Skylab, um dos mais provocativos e indefiníveis sujeitos
dentro da música brasileira, ou fora dela. “sou um sobrevivente. Todavia, me
defino como um cadáver dentro da MPB”, afirma paradoxal em texto de caráter
biográfico publicado no site oficial. Embora fuja de definições e aplauda
“Qualquer tentativa de eliminação do discurso”, Skylab é, sobretudo, um artista
conceitual. E se esbalda com perspicácia na hora de teorizar suas incursões. No
mais recente trabalho “Melancolia e Carnaval”, segundo da trilogia iniciada com
“Abismo e Carnaval”, que já prenuncia os desdobramentos da obsessão por séries,
o entrevistado, outra vez, já que não assusta, desta vez surpreende. “Eu sou um
tipo de compositor que sempre vai buscar caminhos ainda não explorados. Isto é,
inexplorados ainda por mim. Se você der uma examinada no conjunto do meu
trabalho, vai chegar a essa conclusão”, garante.
Bem
mais lírico e palatável que vários trabalhos da carreira de Skylab, e com a
participação da Velha Guarda da Mangueira, Rômulo Fróes e Jards Macalé, o
compositor costura e destrincha os caminhos que o levaram até esse disco. “A
concepção dessa trilogia dos carnavais é o mergulho no coração da MPB, com uma
espécie de linguagem muito própria a esse estilo.
Ao
mesmo tempo, eu dou andamento a um trabalho experimental que comecei com
‘Rogerio Skylab e Orquestra Zé Felipe’, e que deve redundar num novo disco. Por
outro lado, tem o projeto ‘SKYGIRLS’, ligado ao eletrônico e que bebe na fonte
de bandas como ‘Stereolab’. E tem a série dos Skylabs, que é um som com o qual
eu fui mais reconhecido em função também dos dez discos lançados dessa série,
um deles inclusive ganhou o Prêmio Claro de Música Independente, o SKYLAB V”,
demarca. Além das já citadas participações, o álbum também conta com release de
peso, escrito por um dos ídolos de Skylab, a lenda Fausto Fawcett.
“Fausto
é um grande amigo, ainda que sejamos completamente diferentes no que fazemos.
Quando o levei ao programa ‘Matador de Passarinho’, que apresento no Canal
Brasil toda segunda-feira à meia-noite, fiz questão de sublinhar o seu caráter
solitário no cenário do rock brasileiro, que foi aonde ele apareceu. É curioso
que hoje em dia quando ouvimos todas as grandes nacionais que fizeram sucesso
naquela década de 1980, nos dá a sensação de envelhecimento precoce, ao
contrário do que acontece se ouvimos hoje os primeiros discos de Fawcett:
continuam vigorosos. Fiquei muito feliz de ele ter escrito o release. Sou tão
solitário quanto ele”, apresenta o entrevistado de maneira a dispensar
acréscimos. Da mesma maneira Fausto retribuiu no release, ao dizer: “Depois de
estrangular freiras, matar passarinhos, acordar a sua irmã Silvia Maria, ver
ratos entrando pelo grande cu do mundo, (…), Rogério Skylab nos desconcerta
mais uma vez com ‘Melancolia e Carnaval’”.
Sobre
esse desconcerto, essa mudança sempre busca de direção, Skylab arredonda:
“Então, quando você me pergunta, baseando-se no ‘Melancolia e Carnaval’, se foi
uma rendição ou um enfastiamento, eu te respondo que não foi nem uma coisa nem
outra. Foi apenas a busca de um caminho que eu ainda não tinha explorado: um
tipo de arranjo, um tipo de gravação, certa maneira de cantar, de compor e de
escrever que é muito própria da MPB, apesar de todo leque de variações que esse
gênero comporta. Eu diria que é mais um exercício de linguagem, quase uma
paródia”, assinala. A presença de alguns gêneros é assim explicada. “Samba é o
coração da MPB. Bossa Nova é uma estilização, quase uma variante desse modelo
original que é o samba. Jards Macalé, por sua vez é também uma variante do
modelo original – não é bossa nova nem tropicália; é uma exacerbação dos
sentidos, que bebe muito na fonte de Baden Powell e tem em Wally Salomão o seu
grande companheiro”, diz.
Vivente
do universo independente desde antes de 1992, quando lançou o seu primeiro
vinil, um dos assuntos que mais despertam o interesse de Skylab é o tropicalismo.
“Dessa salada de coisas que você tá me perguntando, me interesso mesmo é pelo
tropicalismo, assunto do qual venho estudando já faz um bom tempo”, e aproveita
para indicar um texto escrito em seu blog “A História Viva do Tropicalismo”,
onde também desfia preferências ligadas ao mundo da literatura, dos quadrinhos,
da música, das artes plásticas e outras mais, no endereço eletrônico
www.godardcity.blogspot.com. “Mas esse é um assunto pra mim palpitante”, retoma
a questão anterior. “É a guerra da interpretação, uma guerra que se trava
lentamente, porque tudo é narrativa, já dizia Pablo Capilé, o futuro ministro
da cultura da presidenta Marina. Ai que dor de barriga”, ironiza. No mais
recente disco, inclusive, Skylab estreia parceria com Torquato Neto, morto em
1972, ao musicar um de seus famosos poemas.
“Foi
Jards quem me iniciou em Torquato Neto, esse sim um tropicalista. Caetano
Veloso chega a chamá-lo de ‘tropicalista ortodoxo’. E foi Macalé quem mais
cantou Torquato. O seu suicídio é um enigma simbólico. O meu mergulho na MPB é
radical. Por que tudo isso que te falei, samba, bossa nova, tropicália e
pós-tropicália, é o fundamento da MPB”, considera. Sobre a importância da arte
dramática em seu processo de composição, apesar da evidente presença performática
nas apresentações, desdenha: “nenhuma importância”. Ao contrário do que tem a
dizer de outros carnavais. “Devoto grande interesse às redes sociais. Todos
esses espaços são oportunidades para me manifestar e mostrar minhas
preferências. O que posso dizer, de modo geral, é que a interdisciplinaridade é
o meu espaço. Nesse sentido faço música, artes plásticas, teatro, literatura,
história em quadrinhos”, enumera. “A questão da improvisação na música é o
grande tema do meu próximo trabalho”, anuncia.
Rogério
Skylab tornou-se nome de alcance nacional a partir de aparições no programa de
Jô Soares. Em suas músicas Roberto Carlos, Chico Xavier, Glória Maria, Fátima
Bernardes, Maria Bethânia já foram citados, quase sempre com sarcasmo. Ao mesmo
tempo Arrigo Barnabé, Jorge Mautner, Walter Franco, Chacal e Arnaldo Antunes,
tratados com reverência. Skylab, inclusive, orgulha-se da parceria com Mautner,
“Palmeira Brasileira”, do disco “Abismo e Carnaval”, e da presença de Barnabé
na canção “Cântico dos Cânticos”, em SKYLAB III. Então explica com sinceridade
ausências na música “Eu Quero Saber Quem Matou”. “Maria Alcina eu adoro,
entrevistei agora no meu programa. Luís Capucho eu não conheço o trabalho
ainda. Carlos Careqa é o seguinte, anos atrás fui ao JAZZMANIA, antiga casa de
shows do Rio de Janeiro, assistir ao Arrigo, do qual sou fã de carteirinha, e
quem abria era o Careqa. As pessoas riam muito, eu detestei. Essa má impressão
a gente carrega o resto da vida”.
Porém,
assim como os admirados, embora de forma diversa, Skylab transita em faixa de
espaço reduzida do ponto de vista mercadológico, mas ampla quando se trata de
liberdade artística. “Depois de tudo que eu já te respondi, posso te dizer
muito tranquilamente que eu me identifico mesmo é com a música independente e
experimental. Até quando estou traçando a MPB mais careta – meu terceiro disco,
completando a trilogia dos carnavais, vai se chamar ‘Desterro e Carnaval’ –
ainda assim estou sendo experimental”, aponta. Reconhecido pela série de discos
assumidamente inspirada nos modos operandi dos serial killers, o músico faz
ressalvas quanto a associações. “Quanto à questão da ‘estética do absurdo’, eu
sinceramente não sei o que você quer dizer, e esse tema também é tão vasto. Por
exemplo, eu não me interesso pelo realismo fantástico, que foi o boom da
literatura latino americana, mas me interesso pelo absurdo de Kafka”,
diferencia.
Com
capas de disco que versam sobre morte, violência, asco e estranhamento, Skylab
dá prosseguimento à resposta. “São duas maneiras de tratar o tema do absurdo
que se diferenciam muito. Gosto também do nonsense ligado à linguagem e que
passa por Beckett, Joyce e Lewis Carroll. Enfim isso dá pano pra manga”,
sublinha utilizando-se do popular ditado transformado em música por Macalé e Xico
Chaves. Já sobre outra polêmica, o autor é enfático. “Djavan é muito maior que
Lobão e Thunderbird, vamos combinar. Lobão é um bom compositor e acho que seus
discos independentes são infinitamente maiores que a sua discografia feita a
partir da década de 1980 ligada às majors. Quanto ao Lobão político e escritor,
eu não vou perder meu tempo”, esclarece sobre as críticas que os outros dois
fizeram a Djavan no programa de entrevistas que Lobão comandava na MTV, e que
Rogério rebateu frente a Thunderbird quando este foi o entrevistado de “Matador
de Passarinho”.
Mas
Skylab também guarda boas recordações da convivência com Lobão, com o qual,
além de se apresentar junto, teve a oportunidade de lançar um álbum na revista
que o autor de “Me Chama” comandava. “Quanto à ‘Revista Outra Coisa’, pra mim
foi muito importante, não tenho nada a reclamar. Inclusive, faturei o prêmio
‘Claro de Música Independente’ com o SKYLAB V que saiu pela revista”, rememora.
Já a poesia simbolista, utilizada por Skylab para defender as letras ditas
“incompreensíveis” por Lobão e Thunder na polêmica com Djavan, também é
comentada com considerações pelo entrevistado. “Quanto à poesia simbolista, eu
não sei o que você exatamente quer dizer. Cruz e Souza não teve nenhuma
importância pra mim, mas Mallarmé, Rimbaud, Baudelaire, François Villon,
tiveram e são a base da poesia moderna”, exalta. Rogério Skylab lançou livro de
sonetos em 2006, pela editora Rocco, “Debaixo das Rodas de um Automóvel”, com
seu peculiar acento.
Um
dos motins que sempre chamaram a atenção e diferenciaram ainda mais a já pouco
usual prosódia de Skylab é a abordagem da escatologia na música brasileira.
Sobre esse assunto, o intérprete procura distinguir bem os poemas. “Não sei,
mas se você fala de escatologia como os Titãs – tem, aliás, uma histórica
música deles composta por Nando Reis, salvo engano – se é essa escatologia a
que você se refere, estou fora.
De
qualquer maneira, a nossa MPB, seja por seu lado xenófobo, seja por sua paródia
contida e raramente debochada, capitaneada pelo Sr. Caetano Veloso, sempre me
pareceu movida com o freio de mão puxado. Quando você fala, na sua primeira
pergunta, de possíveis excessos que eu teria cortado com a minha trilogia dos
carnavais, quero entender que você via excessos, quando na verdade era apenas
uma tentativa de soltar o freio”, abaliza Skylab que, mais solto que passarinho
no mato, não roga contra o cano de caçadores.
“Que
isso! Tenho o maior orgulho dessa música por todos os motivos. Não sou ‘Los
Hermanos’ que evitava cantar ‘Anna Júlia’. Eu canto sempre ‘Matador de
Passarinho’ nos meus shows. E tenho o maior orgulho”, alfineta e compara. E
sobre o futuro recorre à saudade e insinua uma possível volta aos cantos das
Minas Gerais. “Cara, você fala de BH, eu tenho uma puta saudade do tempo em que
fazia shows na ‘OBRA’. Pequenininho, porãozinho… Mas os meus melhores shows se
dão nesses redutos. Estou começando a trabalhar no meu próximo disco, o
terceiro da trilogia dos carnavais, ao mesmo tempo, trabalhando num outro disco,
esse com uma linguagem completamente experimental – aqui a minha grande
referência é John Zorn. E, claro, estou divulgando o ‘Melancolia’ e fazendo
shows com a minha banda”, alinhava. Skylab rejeita “humor negro”, dispensa o
riso, e expõe na internet e na entrevista a insatisfação com o Fluminense. “Me
irritam profundamente”, diz sobre a associação América e Natal, time que
eliminou sua equipe na Copa do Brasil.
Mas
o futebol é cíclico, e Rogério Skylab, com mais de 20 anos de carreira e 18
álbuns, entre autorais e participações, ainda é moço, soa como tal, vigoroso,
incansável, disposto a mudar de rumo, a não ser que ele me desminta de novo.
“Ih, comecei velho. Sou como o Tom Zé, eu não tenho nenhum dom e isso é bom.
Nunca se esqueça que, no meu caso, tudo é exercício. Nada é natural”. Talvez
até a retórica.
Nesse
ambiente familiar pouco inspirador, o primeiro livro que leu foi uma tradução
de Monteiro Lobato paraRobin Hood, presenteada por uma tia quando ele tinha
entre 9 e 10 anos. “Lia todo dia. No último dia, no último capítulo, chorei,
pressentindo o fim”, lembra. Ainda assim, o contato com a literatura só foi
retomado na adolescência, quando sua irmã mais velha, então recém-aprovada no
vestibular para o curso de Letras, apareceu em casa com livros de Machado de
Assis e João Cabral de Melo Neto (“Que eu achei chatíssimos, horríveis”).
O
ponto de virada aconteceu pouco depois, quando Skylab passou no concurso para
estudar no Aplicação, considerado um melhores dos colégios do Rio de Janeiro.
Ali, ele se apaixonou por uma professora de português, filha do famoso
gramático Celso Cunha. Para impressioná-la, e passar de ano sem maiores
problemas, levou de casa um texto pronto para usar na prova final de redação,
que deveria ser feita em sala de aula. “Foi nessa ocasião que eu agi de má fé
pela primeira vez. Aliás, o Sartre dizia que todo escritor age de má fé, pois
nunca é absolutamente sincero”, afirma.
Cola
à parte, o fato é que a professora ficou tão encantada com a produção do aluno
que o presentou, no Natal, com um livro de Clarice Lispector: Uma aprendizagem
ou o livro dos prazeres. “Eu já gostava do Drummond e escrevia alguns poemas.
Mas foi a partir da leitura da Clarice que eu mergulhei definitivamente na
literatura”, revela.
Corta
para a vida adulta. Matriculado no curso de Direito, Skylab ignorava a
bibliografia recomendada pelos professores e se aprofundava em livros de
filosofia. Até ser aprovado num concurso para o Banco do Brasil, trancar a
faculdade e iniciar a carreira de bancário numa agência de Maracaju, no
interior do Mato Grosso do Sul. “Era como seu estivesse servindo o Exército
naquele fim de mundo com uma única rua asfaltada. O único livro que consegui
comprar, pelo correio, foi sobre socratismo cristão.”
Depois
de dois anos dividido entre a agência, a quadra de futebol de salão e o bar de
Maracaju, o artista foi transferido para o Rio de Janeiro. Abandonou o Direito,
ingressou em Letras e finalmente entrou em contato com o universo literário.
Mas o autodidatismo falou mais alto. “Isso me persegue até hoje. Não consegui
ficar refém dos professores e resolvi largar Letras também. Meu processo de
leitura, como diz o Borges, é labiríntico. Preciso descobrir os meus próprios
caminhos”, justifica.
Nessa
época, Skylab iniciou um hábito que mantém até hoje: o de estudar em
bibliotecas. “Vou morrer com isso. É uma coisa neurótica, autoimposta. Às
vezes, passo seis horas por dia lendo numa biblioteca. Comecei na Biblioteca
Nacional, migrei para a do Centro Cultural do Banco do Brasil e agora estou na
da PUC”, conta.
Enquanto
isso, ele já militava no underground musical carioca, fazendo shows no esquema
de voz e violão. Ao completar dez anos de banco, no início da década de 1990,
usou a licença prêmio para produzir seu primeiro álbum, Fora da Grei. “Enquanto
meus colegas de trabalho iam para Miami fazer compras, eu me tranquei no
estúdio e gravei um disco.”
Ter
um emprego “comum” foi fundamental para sua carreira artística. Graças à
estabilidade profissional, Skylab conseguiu produzir música sem precisar se
envolver com guetos de artistas que, segundo ele, priorizam laços afetivos e
misturam amizade com trabalho. Hoje, aposentado do Banco do Brasil, dedica-se
em tempo integral à criação. E idolatra Machado de Assis e João Cabral de Melo
Neto. “Machado virou a minha bíblia, o meu Deus. Quanto ao João Cabral, acho
que é o maior poeta brasileiro de todos os tempos.”
Questionado
sobre a literatura brasileira contemporânea, o músico cita Rubens Figueiredo,
Milton Hatoum e Cristovão Tezza como os seus autores preferidos — exceções, de
acordo com ele, num cenário tomado pela influência de escritores beat e pop.
“As experiências que eu tenho com autores mais jovens não são muito boas.
Principalmente a partir dos anos 1990, essa corrente que não diferencia a literatura
da vida, virou uma praga no Brasil. A escrita como um sopro, como um fluxo de
consciência, deve ser apenas um elemento da produção literária. Não pode ser
tudo.”
Skylab
só alivia a barra do paulista Marcelo Mirisola. Para ele, o autor de Joana a
Contragosto e Proibidão, entre outros, passa uma falsa impressão de que se
limita a narrar a própria vida — mas, na verdade, forja um universo bastante
particular. “Isso é uma coisa muito sutil e discreta no trabalho dele, que
deveria ser lido com mais atenção.”
Com
um único livro de poesia publicado, Debaixo das rodas de um automóvel, o
artista acredita que tem material suficiente para, pelo menos, outros quatro
volumes. Sua produção, que também inclui contos, resenhas e ensaios, está
disponível no blog godardcity.blogspot.com, frequentemente atualizado. Nada mal
para quem se formou intelectualmente aos trancos e barrancos, como ele mesmo
diz. “Nunca fui precoce em nada e não acredito em filhinho de músico, filhinho
de escritor. Valorizo muito mais as condições adversas”, afirma.
VITRINES DE DOMINGO
Moro
entre coisas extremas
num
quarto de pensão impossível.
Ontem
cedo matei dois ratos.
Aí
está minha metafísica.
Sou
um poeta errado.
Consumi
muito de minha vida
deitado
na cama e me masturbando.
Escrevo
só para fazer de conta que vivi.
Olho
pela janela do quarto
as
vitrines fechadas da cidade.
Amanhã
estarão repleta de luzes,
mas
hoje adormecem como se ninguém as visse.
E
mostram-se taciturnas, absurdas,
essas
vitrines de domingo que eu olho tanto.
FERIADO NACIONAL
Eis
mais um feriado.
O
comércio fechou as portas,
as
escolas interromperam as aulas,
e
os pequeno-burgueses foram a suas casas de veraneio.
Aqui
fiquei eu.
Cara
a cara com o feriado.
Sem
vitrines coloridas
e
sem a rotina de mais um dia de trabalho.
Inapelavelmente
nu e só.
Não
pude ir à biblioteca
porque
estava fechada.
Não
pude ouvir buzina
e
nem cheirar fumaça de óleo diesel.
Olhei
para mim e achei horrível.
UMA DIVINDADE
Saio
pelas ruas exalando charme.
Muitas
pessoas me olham.
Faço
de conta que não as vejo.
Desprezo
todos os Homens.
Estou
usando uma camisa Yes Brasil,
óculos
Ray-Ban e mochila da Company.
Brilho
no sol da manhã.
Tornei-me
uma divindade.
Fui
para o Rio Sul.
Olhei
as vitrines, as vendedoras,
e
subi, desci várias vezes.
Cheguei
a sorrir pra uma passante
—
mas isso foi uma extravagância.
Pudesse
perpetuar esse instante.
RIO SUL
Caminho
pelo Rio Sul.
Essas
são as minha trilhas.
Não
passo por paisagens bucólicas
nem
ando mais entre multidões na rua.
Estaciono
o carro na garagem.
Desço
as escadas rolantes.
Vou
comprar um videocacete.
Por
que não Por que não?
Estou
hoje sem pensamento.
Tenho
estado sempre assim.
Agora
passa uma jovem.
Olhamo-nos
sem nenhum calor.
Somos
puros fantasmas.
Nada
mais nos atinge.
CAFÉ DA MANHÃ
Esperávamos
tanto um do outro.
Imaginávamos
até uma chuva eterna..
Dessa
vez tudo há de ser diferente
—
foi o que tacitamente nos dissemos.
Cheguei
a balbuciar algumas palavras
—
todas elas dispensáveis —
na
vã esperança de fixar
o
volátil e o sem nome.
Terminado
o gozo, porém,
viramos
cada um pro lado
e
dormimos o sono dos justos.
De
manhã, acordamos com os passarinhos,
não
trocamos uma palavra,
tomamos
café e nunca mais nos vimos.
DISCOGRAFIA
1992
– Fora da Grei
1999
– SKYLAB
2000
– SKYLAB II (Ao Vivo)
2002
– SKYLAB III
2002
– Tributo ao Inédito (participação)
2003 – SKYLAB
IV
2005 – SKYLAB
V
2006 – SKYLAB
VI
2007
– SKYLAB VII
2008
– SKYLAB VIII
2008
– Tributo ao Álbum Branco (participação)
2009
– SKYLAB IX (Ao Vivo e em DVD)
2009
– Rogério Skylab em Skygirls
2009
– Rogério Skylab & Orquestra Zé Felipe
2010 – The
Best of Rogério Skylab (coletânea)
2011
– SKYLAB X
2012
– Abismo e Carnaval
2014
– Melancolia e Carnaval
VÍDEOS
Eu
tô sempre dopado: https://www.youtube.com/watch?v=vFmpk8OIn9c
Carrocinha
de Cachorro Quente: https://www.youtube.com/watch?v=IOUKNdDH2SY
Casas
da Banha: https://www.youtube.com/watch?v=4AxfrCcetPU
Empadinha
de Camarão: https://www.youtube.com/watch?v=Dl7Uh7f_XN8
Matador
de Passarinho: https://www.youtube.com/watch?v=1caqgnIXSMY
Rogério
Skylab e Ultraje a Rigor - Matador de Passarinho: https://www.youtube.com/watch?v=ybNk91Oy0tE
BIO
Thiago
Muniz tem 32 anos, é formado em Marketing pela Universidade Estácio de Sá, dono
do blog O
Contemporâneo, cronista do site Panorama
Tricolor. Compositor por hobby e um amante da música. Apaixonado por
literatura e amante de Biografias, já está escrevendo o seu primeiro livro e em
breve se lançará como Escritor. Caso queiram entrar em contato com ele, basta
mandarem um e-mail para: thwrestler@gmail.com.
Siga o perfil no Twitter em @thwrestler.
Fiquei curiosa com a "versão Frankenstein e cheia de podres da apresentadora Fátima Bernardes". como é isso?
ResponderExcluirObrigada por sua visita ao blog. Eu estava com saudade de visitar seu blog. abç
Andreia,
Excluirobrigada pela visita e volte sempre,amiga!
Oi Andreia!
ExcluirAs canções do Skylab são consideradas ultra-"nada" convencional, sempre há uma surpresa nelas, uma novidade que só ele consegue alcançar.
Fatima Bernardes Experiencia (Rogerio Skylab)
https://www.youtube.com/watch?v=zR8ukXS_kaI
Fátima Bernardes fugiu de casa
Fátima Bernardes mandou um beijo
Fátima Bernardes foi baleada
Fátima Bernardes chupando dedo
Glória Maria
Fátima Bernardes pra presidente
Fátima Bernardes em carne e osso
Fátima Bernardes tem corrimento
Fátima Bernardes, William Bonner
Glória Maria
Fátima Bernardes investe tudo
Fátima Bernardes com arroz 'la grega'
Fátima Bernardes é vagabunda
Fátima Bernardes tem caderneta
Glória Maria
Fátima Bernardes cheirando cola
Fátima Bernardes com a pica dura
Fátima Bernardes experiência
Fátima Bernardes também é cultura
Glória Maria
Marcos,
ResponderExcluirque bom que gostou,amigo!
Volte sempre!
Ele é literalmente melancólico, tanto em suas músicas, quanto em suas obras literárias. Um grande beijo!
ResponderExcluirIdentidade Aleatória
O Identidade Aleatória está no facebook!
A.C
Excluiragradeço a visita e comentário!
Bjos
Melancolia é quase um sobrenome de Skylab, sua vêia artística.
ExcluirGrande Abraço!!!
Oii
ResponderExcluirsempre é bom conhecer poetas novos.
Beijos
O Mundo de Marina
Marina,
Excluiragradeço sua visita,amiga!
bjos
Sempre é bom conhecer poetas novos e linhagens novas.
ExcluirGrande abraço Marina!!!
"Escrevo só para fazer de conta que vivi." é demais poético né Marcos?
ResponderExcluirGrande Abraço !!!
Nossa que maravilha de matéria! Não conhecia o artista, mas adorei! As poesias que você selecionou são maravilhosas. Skylab parece ser um artista completo! ^^
ResponderExcluirVou vistar o blog onde ele coloca as obras.
Beijos,
Monólogo de Julieta
Paloma,
Excluirobrigada pela visita
e volte sempre,amiga!
O Skylab além de ser inteligente possui um grau de excentricidade poética imensa.
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