A cabeça na calçada

Uma cabeça humana rolava pelas calçadas envolvida em um saco plástico, desses de colocarmos lixo orgânico em nossas casas.

Os insetos já estavam rodeando como verdadeiros lobos, prontos para começarem a grande festa de decomposição e alimentação, a grande metamorfose humana, a verdadeira transformação para o NADA!

Imaginei quantos sonhos rolaram naquele cérebro, quantas horas ou momentos de prazer estiveram registrados em sua memória. Era uma cabeça de um homem ainda jovem, com cabelos negros e ondulados, feições finas, mas a boca muito carnuda, ávida por beijos enlouquecedores, por palavras fortes , gritos de prazer, questionamentos constantes .

Alguns pedaços do restante do corpo foram encontrados em outra esquina do bairro de Higienópolis , na “grande” São Paulo, metrópole dos crimes frios e constantes, que passaram a fazer parte do cotidiano dos moradores, vivendo sempre em clima de terror. Os jornais registram, mas não há controle, a criminalidade é latente!

Um morador de rua foi registrado nas câmeras, carregando um saco de lixo num carrinho de obra; muito calmo, sem nenhuma preocupação aparente, apenas levava o “lixo” para uma determinada rua, e logo em seguida, mais sacos de lixo, com o restante dos pedaços humanos foram carregados para outra esquina, era apenas um serviço encomendado por trinta reais.

Existem pessoas, que não sensibilizam com nada; são simplesmente humanos, mas são feitos de” pedra”; são rochas ambulantes, que nos assustam a todo momento, quando ouvimos notícias como essas.

Uma cabeça humana deixada na calçada!!!!

O rapaz foi esquartejado como um porco, seus pedaços não foram para um açougue central, mas foram para as ruas, os cachorros sentiram o cheiro de carne fresca, sangue fervendo ainda no saco de lixo, e a vida que pulsava, que aguardava sucesso, amor, carinho, amizade, não escolheu seu destino, foi eliminada da sociedade, excluída da “grande” cidade, que não se manifesta, mas que se amedronta e se esconde .

Quantas cabeças ainda serão encontradas?

O cheiro de sangue que coagulava era insuportável, a carne que apodrecia...a dor na expressão da face!

Uma cabeça humana deixada na calçada, retrata a sociedade!